Antônio
José de Melo e Souza, nasceu em 24 de dezembro de 1867, no Engenho Capió, Vila
de Papari, atual município de Nísia Floresta, no Estado do Rio Grande do Norte.
Foi o primeiro filho do tenente-coronel, da Guarda Nacional, Antônio José de
Melo e Souza, fazendeiro, chefe do Partido Conservador e presidente da Câmara
Municipal de Papari, e de dona Maria Emília Seabra de Melo e Souza. Souza foi
governador do Estado por duas vezes, de 1907 a 1908 e de 1920 a 1923.
Segundo Cascudo (1939, p. 70), nas duas
administrações como governador do Estado, Souza se interessou muito pela
educação, criando escolas tanto em Natal quanto no interior.Em 1908 criou o
primeiro Grupo Escolar Augusto Severo que funcionou na praça de mesmo nome, no
prédio onde atualmente funciona a Secretaria de Segurança Pública. Em 1922
fundou a Escola Normal de Mossoró, a Escola Profissional do Alecrim e a Escola
de Farmácia de Natal.Percebemos, com a ampliação das escolas no Estado, queas
mulheres passaram a freqüentá-las em número de igualdade em relação aos homens
e em alguns municípios, como o de Acari, Angicos e Assú, o número de mulheres
matriculadas era superior ao de homens (Câmara, 1923, p. 122).Isso demonstra
que o Rio Grande do Norte estava em sintonia com as mudanças que estavam
ocorrendo não só no Brasil, como também no mundo, pois Cambi (1999, p. 387-388)
comenta que as mulheres,Depois de milênios de subalternidade social e
educativa, de exclusão da escola e da instrução,só na época contemporânea é que
se afirmaram cada vez mais na cena educativa (...). A educação delineou-se como
uma via de emancipação feminina buscando a paridade (com a masculina) e o
reconhecimento de uma função chave da mulher também na vida social; esse
resgate educativo caracterizou-se pela reivindicação da instrução, de toda
ordem e grau aberta também às mulheres, e como abertura de todas as
instituições masculinas associativas e do tempo livre (referentes ao esporte ou
ao compromisso civil), de modo a permitir uma integração completa das mulheres
na vida social e sua socialização não subalterna.Percebemos que no Rio Grande
do Norte no início do século XX as mulheres conquistam novos espaços, através
das novas instituições de ensino que se consolidam nas décadas de 1910 e 1920.
Ao término
do primeiro ano da administração de Antônio de Souza, a 4 de dezembro de 1920,
inaugurou - se a Associação de Professores do Rio Grande do Norte (Duarte,
1985, p.17). Um dos objetivos da instituição era auxiliar o poder público na
difusão do ensino, propagando o ensino leigo e o combate ao
analfabetismo(Ibidem; p. 18-23).
A Associação começou a mostrar
resultados positivos, inaugurando a primeiro de maio de 1923, o Grupo Escolar
Antônio de Souza, localizado à rua Jundiaí 641, onde atualmente funciona a
Fundação José Augusto. Fundou também a revista Pedagogium, em 4 de fevereiro de
1924, de publicação bimestral, para divulgar os trabalhos realizados por seus
membros. Em 1927 criou no grupo Escolar Antônio de Souza, Um curso de trabalhos
domésticos (corte, costura, bordado, crochê, etc.) oferecido às moças desejosas
de aprender aqueles ofícios, principalmente as residentes no bairro do Tirol,
onde ficava o Grupo, um tanto afastado do Centro (Ibidem, p.28).
Ao criar um curso de trabalhos domésticos,
percebemos o quanto as prendas femininas ainda eram valorizadas. O Instituto de
Proteção às Moças Solteiras, localizado à rua Santo Antônio, no antigo Paço
Episcopal, dirigido pelas irmãs de Sant’Anna também ministrava o ensino dessas
prendas.No romance Flor do Sertão o autor valoriza esse aprendizado, através da
personagem Julinha que era inteligente e hábil, com muito gosto para o corte e
feitura de vestidos(Feitosa, 1928, p. 272).
Em
Gizinha esse aprendizado já não prevalece com tanta evidência, pois as
personagens estão mais interessadas em cuidar da beleza física e dos prazeres
do dia-a-dia, andar na moda, ir às festas, entre outros.Na década de 1920 em
Natal se sobressaia o ensino da Escola Normal, fundada em 1908 e responsável
pela formação de professoras que iam ensinar no interior. Na mensagem lida na
Assembléia
Legislativa do Rio Grande do Norte, em primeiro de novembro de 1920, pelo então
governador, Antônio de Souza, constatamos:
Os poucos professores diplomados pela
Escola Normal estão exercendo a sua honrosa função nos grupos e nas escolas
isoladas, e algum porventura disponível se não sujeita a ir exercê-la nos
povoados do interior (Souza, 1920, p.11).Esse fato está presente no romance Flor
do Sertão, quando o autor narra sobre a personagem Julinha, professora formada
na capital, mas que havia sido designada para ensinar no interior, na
localidade de Santa Maria.Julinha Costa, desde mais de dois anos professora
municipal na povoação, era uma moça gordinha, de olhos muito vivos e lábios
naturalmente muito vermelhos, risonha como a mãe, mas “séria até ali”. Não se
falava em namoro dela, e constava ter um pretendente na capital, onde a mãe
vivera pobremente, viúva de um empregado subalterno do tesouro, até o dia em que,
pelas solicitações de um parente de Santa Cruz, a filha obtivera aquela
cadeira, com o minguado vencimento de trinta mil réis por mês(Feitosa, 1928, p.
272).
Essa
personagem, gostava de falar expressões francesas, na conversa com as amigas, para
“bolir com elas”:
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